O retorno de Lula ao Palácio do Planalto foi celebrado por muitos como uma chance de reconstrução nacional, especialmente nas pautas sociais e ambientais. No entanto, as decisões recentes indicam que o governo tem trilhado um caminho controverso ao se alinhar com interesses de grandes empresários da floresta, os chamados bilionários verdes. A aliança entre governo e capital privado em áreas sensíveis, como a Amazônia, tem gerado inquietação entre líderes indígenas, ambientalistas e movimentos do campo. A promessa de proteger os povos da floresta parece, cada vez mais, uma retórica distante da prática governamental.
Esse desalinhamento entre discurso e ação é preocupante. Desde o início do novo mandato, o governo vem promovendo reuniões e acordos com megainvestidores sob o pretexto de fomentar a bioeconomia. No entanto, muitos desses bilionários têm interesses pouco compatíveis com a preservação ambiental ou com o respeito às comunidades tradicionais. A prioridade dada a grandes projetos e concessões florestais não contempla a complexidade das lutas locais, tampouco respeita o direito à autodeterminação dos povos originários. O que se vê é a repetição de modelos que historicamente falharam.
Os erros do passado parecem ressurgir com força. A tentativa de conciliar exploração econômica da floresta com discursos de sustentabilidade tem sido utilizada como justificativa para manter o atual modelo desenvolvimentista, agora sob uma estética verde. A narrativa oficial é sofisticada, mas esconde o avanço de interesses corporativos sobre territórios que deveriam ser preservados ou devolvidos aos seus verdadeiros guardiões. Não é difícil perceber que, enquanto grandes nomes ganham espaço nas decisões políticas, as vozes das comunidades locais são silenciadas ou cooptadas.
O problema não está apenas na escolha dos aliados, mas na forma como o governo interpreta o papel do Estado em regiões como a Amazônia. Ao priorizar grandes investimentos, o governo ignora soluções locais que há décadas provam sua eficácia, como as iniciativas de manejo florestal comunitário e os sistemas agroecológicos. Em vez de fortalecer quem já vive na floresta e dela cuida, prefere-se investir em estratégias que dependem de capital externo e, muitas vezes, ignoram as complexidades sociais, culturais e ambientais da região.
Esse cenário revela uma contradição profunda entre a imagem progressista que o governo busca manter e suas ações concretas. A expectativa de mudança está sendo substituída por frustração. A cada novo acordo bilionário anunciado, aumenta a sensação de que se está sacrificando o futuro em nome de ganhos políticos e econômicos imediatos. A lógica de desenvolvimento continua sendo imposta de cima para baixo, com pouca escuta e quase nenhuma participação efetiva dos verdadeiros protagonistas da floresta.
A escolha de repetir erros antigos com roupagem nova revela a ausência de um projeto de país que realmente valorize sua diversidade e suas múltiplas formas de viver e produzir. Ao colocar os bilionários como atores centrais do desenvolvimento sustentável, o governo corre o risco de legitimar uma colonização moderna, onde o capital dita as regras e a floresta se transforma em ativo financeiro. As promessas feitas durante a campanha de respeito e reparação aos povos da floresta parecem cada vez mais distantes do cotidiano político.
Se continuar assim, o governo poderá colher não apenas críticas internas, mas também desconfiança internacional. O mundo observa o Brasil e espera dele uma postura firme diante da crise climática. Contudo, apoiar grandes grupos econômicos com histórico duvidoso, ainda que com boa retórica, é um tiro no pé. O país corre o risco de perder protagonismo ambiental e credibilidade política se insistir nesse modelo que erra hoje para errar muito mais amanhã, como já se mostra evidente.
Por fim, é preciso reconhecer que proteger a floresta e seus povos vai muito além de contratos bilionários e promessas de crescimento. É uma questão de justiça histórica, de soberania e de visão de futuro. Repetir os mesmos erros com novas justificativas é escolher o fracasso como destino. Se o governo não mudar de rota, estará não apenas traindo suas promessas, mas condenando o país a um ciclo vicioso de destruição e desigualdade. O tempo de acertar é agora, antes que os danos se tornem irreversíveis.
Autor : Igor Semyonov