Conforme evidencia Leonardo Siade Manzan, as leis complementares são instrumentos legislativos previstos pela Constituição Federal que servem para detalhar, regulamentar e viabilizar a aplicação de normas constitucionais. Diferentemente das leis ordinárias, elas exigem um quórum qualificado de aprovação — maioria absoluta em ambas as casas do Congresso Nacional — o que lhes confere maior estabilidade jurídica.
Em contextos de reforma, como previdenciária, tributária ou administrativa, essas leis são indispensáveis para transformar diretrizes amplas e principiológicas em regras operacionais concretas. Ou seja, mesmo que uma reforma seja aprovada por meio de emenda constitucional, sua eficácia plena só se dá com a publicação e entrada em vigor das respectivas leis complementares que organizam a execução da norma reformada. Confira!
Como a ausência de regulamentação pode comprometer a efetividade de uma reforma?
A promulgação de uma emenda constitucional representa apenas o primeiro passo de uma mudança estrutural, como pontua Leonardo Siade Manzan. Sem a regulamentação por leis complementares, muitas disposições reformistas permanecem inoperantes, o que gera insegurança jurídica, confusão institucional e frustração social.
Por exemplo, uma reforma tributária pode prever a criação de novos tributos ou a substituição de impostos antigos, mas sem a regulamentação que define alíquotas, competências de arrecadação e critérios de partilha, essas mudanças não podem ser implementadas. A demora ou omissão legislativa nessa fase compromete tanto a confiança dos agentes econômicos quanto a credibilidade do Estado em executar o que foi aprovado.

Quais são os principais desafios políticos para aprovar leis complementares?
Ao contrário das emendas constitucionais, que envolvem muitas vezes negociações macro e acordos institucionais amplos, a aprovação de leis complementares costuma enfrentar obstáculos mais específicos e setoriais. Isso ocorre porque a regulamentação mexe com interesses concretos: define regras, prazos, percentuais e responsabilidades que afetam diretamente estados, municípios, categorias profissionais e setores econômicos.
Dessa forma, o processo legislativo tende a ser mais litigioso, com maior pressão de lobbies, divergências federativas e disputas orçamentárias. Leonardo Siade Manzan explica que mesmo quando há vontade política, o quórum qualificado e o risco de judicialização tornam a tramitação mais lenta e complexa.
A regulamentação por lei complementar garante mais segurança jurídica?
Sim, uma das funções centrais das leis complementares é dar segurança jurídica à aplicação das normas constitucionais reformadas. Elas traduzem princípios em procedimentos e regras detalhadas, o que reduz margens para interpretações divergentes e disputas judiciais. Isso é particularmente relevante em temas como previdência e tributação, nos quais a previsibilidade é essencial para o planejamento de empresas, governos e cidadãos.
Apesar de ser um processo técnico e político, a regulamentação por leis complementares também deve ser permeável à participação social, frisa Leonardo Siade Manzan. Entidades de classe, associações empresariais, sindicatos e organizações não governamentais podem contribuir com propostas, estudos técnicos e mobilização pública. Consultas públicas e audiências legislativas são ferramentas importantes para incorporar visões diversas e evitar soluções desequilibradas.
Em conclusão, Leonardo Siade Manzan destaca que nos próximos anos, o Brasil viverá um período decisivo de regulamentação legislativa, especialmente em função das reformas aprovadas recentemente. A complexidade das mudanças exigirá leis complementares bem construídas, capazes de harmonizar os interesses da União, estados, municípios e da população. O sucesso ou fracasso das reformas dependerá diretamente da qualidade e da tempestividade dessas leis.
Autor: Igor Semyonov